(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

19.3.12

um abraço



  Estive mais de três minutos com o word aberto, o cursor a piscar e sem que palavra alguma saísse. Quem me lê  não tem como saber que isso raramente acontece. Todas as manhãs os dedos começam a percorrer as teclas, ativados pelo único mecanisco que me propulsiona: o coração.
- “ Ana, deixa-te de merdas e pára de pensar tanto. Faz como sempre fazes e começa.” – pensei.
  E porque me pus a pensar tanto? Perguntam vocês…  Porque me estava a lembrar que há um ano fui passar este dia com o meu pai. Sabia que era o último dia do pai que passaria com ele. Não me lembro do que falámos, ele deitado na cama e eu ao lado, no sofá. Não me lembro se o que ele dizia ainda fazia sentido. Mas lembro-me bem que a companhia foi excelente. Para os dois. Porque, por mais que às vezes discordássemos, o amor e admiração mútuos estavam sempre presentes.
   Nessa altura eu sabia que cada dia tinha que ser aproveitado. Cada oportunidade tinha que ser agarrada. Mas de que me teria servido aproveitar o conhecimento de que aqueles eram os últimos dias que tinha com ele, se não o tivesse “aproveitado” toda a vida?   Não é nas últimas oportunidades que devemos entregar-nos. Não é na consciência de que algo está a chegar ao fim que a redenção acontece e os remorços futuros se evitam.   É na somas dos dias que a paz interior se constrói. É claro que os afetos e demontrações de amor dão “trabalho”. Ser carinhoso e presente para os que amamos pode roubar-nos  tempo  e até energia, mas é nessa dádiva que nos construímos como seres humanos sensíveis e emocionalmente saudáveis.
  Hoje é dia do pai. Dia de afetos sentidos e redenções emergentes. É dia de abraçar, nem que seja só com a alma, todos os pais, genéticos ou não, que a vida, com a sua indizível bondade, teve o cuidado de nos presentear.
Ana Dias

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