- Porque estás a fazer comida tão bonita, mãe?
- Sabes, João? A comida, mais que uma satisfação animalesca, deve ser uma manifestação estética.
- Mas isso não devia ser só lá para baixo, para os casamentos?
- Claro que não, filho. A estética é um valor pelo qual devemos lutar sempre! Além disso a comida deve ser como as pessoas realmente atraentes: bonitas por fora e nutritivas por dentro.
Tenho ideia que às vezes não escolho bem as palavras para falar com o puto, mas ele não se atrapalha a tirar todas as dúvidas.
- Isso tem alguma coisa a ver com aquela conversa do outro dia... Aquela sobre como tratar as meninas, sabes? - questionou-me.
Há uns dias andei a explicar-lhes melhor algumas regras de etiqueta:
- ... e não há nada que enganar, pega-se nos talheres de fora para dentro à medida que a comida vai sendo trazida; o guardanapo ao colo, levado à boca antes de cada utilização dos copos e, quando a senhora se levanta, o cavalheiro deve também levantar-se levemente.-
- Explica melhor a das escadas, mãe!
- Ao subir deve ir o homem à frente, ao descer é ao contrário e já vos expliquei porquê: é muito indelicado porem-se a jeito para olhar para o rabo ou para o peito das senhoras!
Risos.
- A sério é mesmo assim!
Achei engraçado que o João tenha retido tão bem tal conversa, a ponto de ontem me pedir para a desenvolver um pouco mais.
- Conta-me mais regras daquelas das mulheres, mãe.- pediu.
- Muito bem: para teres encanto aos olhos delas, deves saber um pouco de tudo, de história, artes, filosofia, geografia... Deves abrir a porta do carro para ela entrar, puxar a cadeira para ela se sentar e deves olhá-la os olhos quando falas com ela. Deves mostrar-lhe que é o centro da tua atenção e nunca dar elogios óbvios ao seu corpo, embora possam ser completamente óbvios se se referirem à sua maneira de ser. Mas há algo mais importante que tudo isto, João.
- O quê, mãe? O quê, o quê??
- Tens que caminhar e agir sempre com uma coisa chamada confiança. Mulher nenhuma confia num homem que não confie em si mesmo.
Acabei de preparar a bonita comida enquanto ele me olhava, maravilhado. Teremos estas conversas tantas vezes quantas ele queira, porque se um homem é só um homem, um cavalheiro é a sublimação estética e essencial do homem.
Ana Amorim Dias
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