- Olha para isto. – A minha tia passou-me o papel para as mãos, sem que eu o esperasse.
Fiz como disse. Olhei. Li e reli para ter a certeza de que estava a entender bem. Mariana Enriqueta Salvadora Concepción Cayetana Petra Esperanza Ignacia Cinta de la Santissima Trinidad Romero y Rasco.
- Não pode ser, Concha! – Respondi-lhe, depois do choque inicial.
- Pois… Estás tão espantada como eu fiquei quando me deram a certidão. Até pensei que se tivessem enganado na pessoa, mas não. Era este o nome da tua avó materna! –
Fiquei logo com a sensação de ter sangue da realeza espanhola. Afinal que outra justificação poderia haver para a minha avó ter nada mais nada menos que treze nomes?
Mais tarde comentei com os meus filhos o nome da sua bisavó, ao que o João respondeu, praticamente sem pestanejar: - Porque é que ela tinha treze e eu só tenho três? - Senti-lhe a indignação na voz e só soube responder-lhe: - Óh filho… assim é muito mais prático. –
Mas, como é óbvio, não consegui impedir-me de me entregar às mais profundas conjeturas. Porque é que os pais desta avó, que nunca cheguei a conhecer, a batizaram com tão rebuscada fórmula? Seria costume? Que tipo de afirmação, dedicatória ou tributo estavam a efetuar? Não encontrei a resposta e talvez nunca a encontre, mas fiquei a pensar em como me chamaria se acaso me calhasse a (má?) sorte de ter que ter tantos nomes.
Ana do Mar Lúcia Paixão Prazeres Lopes Deslumbrada das Palavras Amorim Amores dos Dias. Um pouco índio, mas seria este o meu nome!
Deslumbrei-me com o nome desta avó que também escrevia. Deslumbrei-me como quase todos os dias consigo deslumbrar-me com algo. E reservei, como se reserva a massa do pão que amasso até estar pronto para entrar no forno a lenha. Reservei esta pequena estória até me chegar a questão que me fez partilhá-la hoje: e tu? Se tivesses treze nomes, como te chamarias?
Ana Amorim Dias
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