No dia seguinte a ter começado a dar vida à sua mais recente paixão, esculpir esferovite, o João chegou da escola e perguntou-me:
- Então? O meu navio já é famoso? Já lhe escreveste a crónica? –
Ia começar a rir, mas o Tomás interrompeu-me: - Óh mãe, não é justo! Tu escreves muito mais crónicas sobre o João do que sobre mim! –
“ Pensa depressa, Ana, pensa depressa! “
- Meu amor, eu não tenho culpa que o teu irmão ande sempre a “inventar” e, além disso, enquanto tu vês televisão e jogas computador ele está a dar largas às suas artes…não vês? –
E então o Tom pegou num tule branco que estava por perto, colocou-o na cabeça e começou a imitar uma noiva. – Mas eu faço-te sempre rir! –
É verdade. Rio-me. Com um e com outro. E só não coloco aqui a fotografia do meu filho mais velho com um tule branco na cabeça porque os amigos dele também estão no meu facebook e seria mau para a sua imagem teenager.
No entanto, agora que escrevo sobre as preciosas gargalhadas que os meus filhos me causam, recordo que também sou uma mãe algo prepotente, gritona e ameaçadora. A sorte é que a magia da infância me regressa com frequência, como nos últimos dias em que, perante a profusão de esferovite que invadiu a casa toda, decidi parar de gritar e render-me à cantoria: - let it snow, let it snow, let it snow - Afinal, que mais são os filhos senão os potenciadores de algumas das mais preciosas lições?
Ana Amorim Dias
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