Uma das muitas coisas parvas que faço com frequência é brincar aos alienígenas. Não requer muito tempo, não precisa de companhia e nem sequer de qualquer tipo de adereço, no entanto é simples ao ponto de se poder “jogar” em qualquer lugar e ocasião. Mas deixem-me explicar, pois talvez se vejam tentados a experimentar.
Quando me lembro, imagino que sou um extraterrestre acabado de chegar à Terra e começo a olhar para tudo como se fosse a primeira vez; com a incredulidade de quem nada sabe e com um espanto absoluto por todas as coisas. Com pouco esforço chego bem depressa a uma espécie de realidade paralela interior em que a única sensação que me invade é o espanto. De repente tudo fica diferente pois o olhar é completamente inocente. Não sei para que servem as coisas; não sei o que são; vejo seres a emitir sons, mas não os entendo; vejo coisas móveis e imóveis, cores, texturas; sinto os elementos sem os saber nomear e os cheiros sem os conseguir associar; aprecio as ações, as causas e efeitos, sem nada entender… E o que sobra de tudo? A beleza! Uma visão completamente nova, limpa e espantada que me acomanha no regresso à realidade.
Na fotografia que ilustra esta crónica, contudo, não precisei de brincar aos alienígenas para me espantar: a minha pequenez, no sopé deste magnífico ser vivo, foi mais do que suficiente para acionar o encantamento agradecido que tantas vezes sinto pelo Mundo.
Ana Amorim Dias
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