(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.12

Boa Demanda


   Passei os anos de faculdade a ouvir, uma e outra vez,  que  mais vale um mau acordo do que uma boa demanda.  Mais tarde vim a perceber que esta espécie de  provérbio jurídico nem sempre corresponde à verdade. E se assim é no contexto dos enredos judiciais,  sinto-me com legitimidade suficiente para o derrubar por completo se o tentar aplicar à vida em geral.
   Senão vejamos: o que é a vida? Partindo da mais básica e irrefutável premissa, ela é, nada mais e nada menos,  que o intervalo entre o nascimento e a morte.  E o que se passa ( ou se deveria passar)  nesse intervalo é uma incessante demanda:  a demanda da felicidade.  Podemos procurá-la de todas as maneiras possíveis e sob todas as formas de que ela se pode revestir e, enquanto nos conseguirmos  manter  focados nesse imperativo supremo, podemos dizer que a nossa vida é uma  Boa Demanda.
   O que não percebo é porque é que milhões de pessoas se permitem a uma rendição constante e  sucessiva   aos  maus acordos!  Fico com a ideia de que, na nossa essência, trazemos instalado o gene da Boa Demanda, mas que, ao longo desse intervalo de tempo que é a vida, nos vamos acomodando aos maus acordos, por  nos trazerem uma sensação entorpecedora de segurança e estabilidade.
  Aceitamos maus acordos em tudo. Nas relações interpessoais, nos ofícios, nos estilos de vida e na forma como escolhemos encarar  as nossas existências.  Aceitamos os maus acordos porque temos um medo visceral da Boa Demanda, esse bicho tenebroso que nos obriga a arriscar tudo a todo o momento.  Não abraçamos a Boa Demanda pelo medo de perder, sem perceber que, ao fazê-lo, estamos a perder à partida tudo o que realmente importa.
  Há Vidas vencedoras e vidas perdidas. Nas primeiras  vive-se a arriscar a nossa suprema demanda, mesmo sabendo que aqui e ali se perde; nas outras, nas vidas desperdiçadas,   passa-se por cá sem perceber que muito mais vale viver na  demanda da felicidade, com todos os riscos e perdas que daí podem resultar,  do que numa sequência constante de bons e ocos acordos.
Ana Amorim Dias

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