- Ana!... –
Oiço a voz muito ao longe.
- Ana! –
Desço do alto mais profundo dos confins do meu sono.
- Olha para a porta. Depressa! –
Pressinto a urgência. Manejo as pálpebras. Abro os olhos.
A porta do meu quarto dá diretamente para a rua. De Verão fica aberta de par em par. Olho para a rua e lá está ela, corpo na rua, cabeça cá dentro. Por momentos fico com a sensação de que mais uns segundos e acordaria com a Joaquina II a lamber-me os pés.
O momento em que cruzamos aquele olhar intenso dura muito pouco tempo, mas consigo interpretar o que me veio dizer com a sua expressividade quadrúpede de burra bem instalada na vida.
- Afasta-te do que é meu, sua monstra das alfarrobas! – Diz-me, antes de se virar para continuar o seu dia. E eu fico ali, estendida nos meus aposentos invadidos pela recriminação contida no olhar de uma burra justiceira.
- Realmente ela tem razão, Ana. Tu podes comer toda a comida humana que te apetecer… porque que é que tens de ir roubar as alfarrobas à burra e às éguas? - Pensei.
A verdade é que não sei. Continuo em busca da resposta enquanto escrevo esta crónica… e vou ruminando uma maravilhosa alfarroba.
Ana Amorim Dias
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