Todos os anos é a mesma coisa. Durante o início de Junho provo o primeiro figo da figueira preferida. É sempre ela, a mais possante e frondosa, que dá os primeiros e mais doces figos da época. Nenhum dos frutos das outras figueiras tem o mesmo delicioso sabor, ou então sou eu que tenho esta ideia porque quando começam a dar já eu comi tantos que não me sabem igual.
É nos últimos dias de Maio que começo a “namorar” a figueira preferida. Chego à quinta, páro o carro mesmo à beira dela e espreito os ramos carregadinhos, calculando quantos mais dias de calor serão precisos até o calor amadurecer os frutos que me deliciam. Apalpo um ou dois, na esperança de apressar a natureza, e começo a medir forças com os meus rivais alados numa ameaça surda que lhes diz: “Livrem-se! Os primeiros são meus, depois podem comer à vontade!”
A fruta que se come debaixo da árvore e numa altura específica do ano, tem um sabor inigualável, que se sente nas papilas gustativas da alma! Isto é mesmo verdade!
Por isso ontem, ao comer o primeiro figo maduro (foi só um: gordo, doce e inimitável) que depois de árdua pesquisa encontrei, senti-lhe o sabor quente do Verão. Fui até ao céu da boca e senti a alegria de saborear, em dentadas vagarosas, a magia gastronómica anual que sempre me antecede o solstício de Verão!
Ana Amorim Dias
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