- Mãe, o que são “homemsexuais”? –
- Hoje as perguntas matinais começaram em grande! - Pensei – E logo hoje que eu ia iniciar o dia a escrever sobre o que desejaria levar para uma ilha deserta… -
- “Homemsexuais” não existe, João. Acho que estás a falar de homosexuais, não será? –
- Sim, isso. –
- Homosexuais são homens que namoram com homens, meu amor. – Expliquei com calma, temendo a reação.
- Que nojo! –
- Não deves achar isso, João. Cada um tem direito a escolher se quer namorar com homens ou mulheres, não te parece? Gostavas que te achassem nojento por namorares com meninas? –
- Não. –
A coisa ficou por ali. Mas só por uns momentos. Ao sair do carro para ir para a escola voltou ao ataque:
- Mãe? -
Tremi.
- Sim? –
- Como é que os homosexuais põem a sementinha? –
Devo ter ficado com cara de peixe-balão, mas lá encontrei as palavras (que me pareceram) certas.
- Para os bébés nascerem é sempre preciso uma mulher, por isso eles normalmente adotam. –
Saímos do carro e, enquanto caminhávamos lado a lado até à escola, ele deu a estocada final.
- E se houvesse polícias que prendessem os homosexuais? –
A sério! Ninguém merece passar por um susto destes antes das nove da manhã! Por uma fração de segundo imaginei o meu filho já homem, dirigente de algum partido extremista, a fazer campanhas homofóbicas! – Tem calma, Ana, tu estás a educá-lo bem. Isto é só um mal entendido! – Disse a mim mesma em surdina.
- Mas tu achas bem que houvesse polícias a prender os homosexuais? –
- Não, mãe. Claro que não! –
- Olha João: - Parei e fi-lo olhar para mim - Se há coisa feia nesta vida, é a discriminação! -
- Mãe, o que é discriminação? –
Lá vamos nós outra vez!!!! Respirei fundo e disse: - É pensar que somos melhores que os outros e tratá-los mal por isso. –
Já não me respondeu. Olhou-me com um sorriso traquinas, deu-me um delicioso beijo e deixou-me ali, atarantada para o dia todo.
Ana Amorim Dias
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