Ontem à noite fez vento. E esse vento forte foi o combustível que a minha memória usou para me levar ao passado…
- Hoje não há horas para ires para a cama. Vais ver este filme comigo! -
Eu tinha sete anos quando o meu pai me convidou para ver com ele “ The Eddie Duchin story”. E, nos últimos trinta anos, sempre que o vento sopra mais forte, lembro-me da cena em que a mulher dele, no seu leito de morte, diz que tem medo do vento. Não sei se não gosto de vento por causa do filme, mas sei que adoro a memória daquela noite, em que o meu pai quis partilhar comigo um filme que adorava.
Ontem, na viagem da memória em que o vento me levou, comecei a tauterear a música que o Tyrone Power toca com o menino de olhos rasgados. Nessa cena, única e de um encanto soberbo, a criança abraça-o no fim da música: abraça-o com a força agradecida de um momento de pura magia musical; com a mesma força com que ontem à noite abracei o meu pai na minha memória, por ter conseguido gravar para sempre em mim… a melodia do vento.
Ana Dias
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