O turismo espiritual começa a estar cada vez mais em voga, talvez devido ao ritmo alucinante das vidas que agora se vivem. E se no passado esse tipo de viagem consistia em retiros nos mosteiros, viagens ao Tibete e peregrinações a locais de aparições, nos dias de hoje proliferam as estadias em quintas ecológicas com atividades espituais dos mais diversos tipos.
Farto-me de rir ao imaginar-me numa dessas quintas, a morrer de tédio sem telemóvel nem net, a regar as plantinhas entre palestras de reiki e sessões de meditação. E, só de imaginar, apodera-se de mim um stress inexplicável.
Mas desengane-se quem pense que estou a criticar esse tipo de férias ou quem as faz. Apenas sei que não são próprias para o meu ritmo espiritual.
Para mim o turismo espiritual é algo diferente e um pouco mais acelerado que dar de comer a pintos depois de procurar o divino no meio de plantações biológicas de batatas e alfaces.
Turismo espiritual ( para mim) é ter tempo para estar só, ouvir-me e pensar; é ter espaço para ver tudo só pelos meus olhos, sem o ruído de interferências alheias. Turismo espiritual é sentir o divino que há em toda a criação artística e sentir cada centímetro de pele a arrepiar-se com espetáculos, obras de arte e monumentos.
Turismo espiritual é estar em movimento, por ar, terra ou mar, e tomar contacto com a nossa finitude e fragilidade; criar a consciência que tudo pode, a qualquer momento, acabar.
Turismo espiritual é estar aberto a dar e a receber, a ajudar e ser ajudado; é estar disponível para falar com quem nunca se viu e nunca mais se vai ver.
Turismo espiritual é encontrar o nosso próprio método de descoberta e deixar a melodia do conhecimento soar ao ritmo que mais nos convém.
Mas continuo a dizer que o que traz a maior das espiritualidades a qualquer viagem é saber que, por mais que custe partir, regressaremos infinitamente mais cultos, ricos e espirituais.
Ana Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário