Por 4 carteiras de cromos…
A estória começou assim:
- Mãe, compra-me cromos. –
- Outra vez?!? –
- Sim, mãe. Vá lá, vá lá, vá lá!
- Isto é um abuso, João! Cromos todos os dias? -
- Óh mãe, vá lá. Compras-me umas carteirinhas e prometo que sou teu escravo eterno… -
Foi nesta altura que a conversa passou a despertar-me verdadeiro interesse.
- Quantas?- Quis eu saber.
- Cinco. – Respondeu-me.
- Quatro e fechamos negócio… mas quero um papel assinado!- Não tencionava deixar fugir esta fantástica oportunidade.
- Ok, mãe. – E terminou com o habitual: - És a melhor mãe de sempre! –
Comprei-lhe os cromos e ele assinou. Vendeu a alma… à mãe. Se morassemos nos Estados Unidos, talvez poucas horas depois desta publicação eu tivesse alguma autoridade à porta, para me tirar a custódia do miúdo, mas como por cá o bom senso impera, não é difícil perceber que não vou obrigar o meu filho a trabalhos forçados nem a manter a sua promessa de eterna obediência por muito tempo. Mas também não vou negar o bem que me soube saborear o doce triunfo de o ter “ na minha mão” durante estes dias. Acho que consegui demonstrar ao João o valor dos negócios, do compromisso e da honra. Talvez daqui para a frente comece a medir melhor o valor das suas pomposas promessas. E acho preferível que aprenda estas lições com a sua compreensiva mãe, do que com quem se possa vir a aproveitar dele.
Mas não termino sem contar o final da história.
É claro que este “contrato” foi feito sem cláusula de rescisão e é também óbvio que, alguns dias passados sobre a celebração do mesmo, o João já andava “à rasca”, pois percebeu que cometeu o maior erro da sua ainda curta vida.
Ainda tentei celebrar contrato igual com o meu filho mais velho mas esse, mais sabido, já não se deixou enganar e, pelo contrário, iniciou uma campanha de apoio ao irmão, baseada na recuperação e destruição do supra citado documento.
Optei por lho entregar, ontem à tarde, dizendo com voz solene: - João, aqui tens o contrato. Faz o que a tua consciência te disser. –
Olhou para mim meio espantado, indeciso entre a voz da consciência que lhe dizia que promessa é para cumprir, e o sopro diabólico do irmão, que lhe dizia: - Rasga, João, rasga! –
Como fui tratar de outras coisas, acabaram por ficar os dois a decidir a melhor forma de resolver a questão.
E hoje, mesmo antes de começar a escrever, perguntei-lhes pelo “documento”, dizendo que queria rasgá-lo e libertar o João das suas obrigações de meu eterno escravo, explicando-lhe de novo que, de ora em diante, deverá medir e ponderar melhor cada “negócio” que fechar.
Mas o caso deu uma reviravolta surpreendente e continuo sem saber do malvado papel pardo onde o meu filho mais novo assinou a sua honra… E, devido ao ar malandro do meu filho mais velho, estou com a leve suspeita que guardou o documento e lhe trocou as palavras “minha mãe” por “meu irmão”….
Ana Dias
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