Ela leva-me ao quarto e mostra-me a fotografia que tem na mesinha mais próxima da cama. Uma bela jovem admira, extasiada, o homem seguro que a abraça com ar confiante. Toda ela é sorriso e amor. Todo ele é integridade e realização.
Pego na moldura e absorvo cada detalhe. O requinte da envolvência; a forma como ele, feliz, olha o infinito e segura o cigarro com estilo. A perfeição toma conta de cada singular nuance naquele daguerreótipo ainda a duas cores…
Pouco depois, enquanto bebemos um porto sentadas à mesa, ela diz-me: - “Ainda o amo, sabes querida?” – O brilho daquele olhar comprova a verdade das palavras. O sorriso saudoso, todo feito de amor, confere ao momento uma singularidade quase etérea.
Fico sem palavras. Numa das poucas vezes em que elas me faltam, compreendo o valor do silêncio. Entendo que há frases, ditas por todas as células, que não esperam resposta.
Peço-lhe para continuar. Para me falar mais desse homem perfeito que conseguiu continuar a arder na chama acesa de um amor tão forte… quarenta e três anos depois de ter morrido! E ela continua. A conversa corre, veloz e emocionante, enquanto conheço um pouco mais desse avô perdido nas brumas do tempo.
Mas os momentos passam e a conversa acaba por ter um fim. Contudo, embora os momentos passem ( sejam eles uma conversa profunda ou um amor perfeito vivido durante treze anos) os efeitos de certos momentos estendem-se no tempo de uma forma quase inexplicável…
Trago comigo a certeza comprovada de que os amores eternos existem. E a esperança de que haja, por esse mundo fora, mais homens fortes como o meu avô… capazes de enfrentar tudo por amor; capazes de se sentirem seguros e plenos ao lado de mulheres tão fortes e impetuosas como eles próprios…
Ana Dias
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