Mundial da treta
Não canto o hino. Não sofro. Não me emociono. Num mundo em que a esfera rola sobre a relva de milhões, disputada por vinte e dois galifões-mercenários, não encontro qualquer encanto.
Não canto o hino. Não grito. Não altero o batimento cardíaco nem por frações de segundos. Devo ser algo robótica porque fico no absoluto vazio emocional. Esporadicamente levanto os olhos do que naquele momento me ocupa e vislumbro os pontinhos irrequietos sobre o fundo verde. Pergunto-me se sabem que são marionetas dos grandes senhores do dinheiro. Muitos saberão, estou segura, das mais conspurcadas formas.
Quando a pura paixão e o amor aos seus países fizer dos jogadores, guerreiros imortais, eu verei jogos e emocionar-me-ei. Enquanto a copa for um mundial da treta, de resultados orquestrados ao cheiro do dinheiro, quero mais é que as televisões ao meu redor se apaguem no doce silêncio.
No meio de tudo isto, a única coisa que poderia ser mesmo triste, caso o assunto tivesse a mais ínfima importância, seria perceber que há tantos milhões de pessoas cegas...
Ana Amorim Dias
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