Azulejos na parede
Cada vez que olho para casas cujas paredes exteriores são forradas a azulejos, sinto um forte arrepio de pavor a percorrer-me a coluna. É como se entrasse como figurante num filme de terror de há três décadas, em que zombies e vampiros mal caracterizados podem saltar de trás das moitas a qualquer momento, para me tentar transformar num deles.
Percebo que a colocação de azulejos serve para suprir a necessidade de se ter que pintar tudo de tempos a tempos. Mas nem esta compreensão aplaca a tristeza que tais visões me causam. Azulejos nas paredes exteriores das casas são como a teimosia nas paredes do caráter das pessoas. Aquela teimosia que insiste na imutabilidade que impede o crescimento. Há pessoas que se forram de azulejos intocáveis para não terem o trabalho de se voltar a pintar de cada vez que o mofo bolorento dos defeitos se instala. Por isso tento não ter azulejos medonhos a forrar a minha essência. Quero ser como a avó Rosa que, a cada nova primavera, caiava todas as paredes que via.
Ana Amorim Dias
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