Ontem à tarde
O avião aterra em Sevilla sob um sol resplandecente. Olho para o relógio. Ontem a esta hora estava a beber cerveja numa esplanada da marina de Saint Tropez e agora vou tomar a direção de Castro Marim? Bem, é a vida!
Entro para o carro e páro junto às máquinas onde se paga o parque. Nesse momento lembro-me: faz hoje dois anos que, à hora em que eu hoje estava lá em cima nas nuvens, me ligaram: - Ana? Lamentamos informá-la, mas o seu pai acabou de falecer.-
Ponho o tiquet na máquina e a cancela levanta. Aprecio a união com o meu carro, esse prolongamento de mim que me leva onde quero. Entrego-me a esse prazer. Passo da segunda para a terceira e da terceira para a quarta, meio macambúzia. Mas quando a quinta se engata não reprimo o sorriso que se me estampa no rosto. De que me serve estar triste? Isso não o traz de volta. Prefiro abraçar este sorriso agradecido por tudo o que de bom ele deixou gravado em mim.
E então lembro-me de uma das gravações do Eric, sobre a forma como a sua mãe, as suas filhas e algumas mulheres que amou o ajudaram na sua construção pessoal. Faço o mesmo exercício com a minha própria vida e sorrio outra vez de orelha a orelha, lembrando-me da última lição deste homem que me inspira a superar-me.
- Não aprecio despedidas por isso tchau, nem vou olhar para trás.- disse-lhe eu.
- Tens razão, eu também não. Tchau!-
Devido às filas em corredor, acabei por ficar mesmo de frente para a saída da gare. E lá estava ele à espera. Deu uma gargalha, fez adeus e só então foi embora.
E eu fiquei a rir. Já aprendi que o Mundo é tão pequenino que um dia destes nos vamos encontrar por aí.
Ana Amorim Dias
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