- Mãe? –
Eu estava concentrada, a cozinhar dois jantares diferentes, mas reconheci os sinais de perigo naquela vozinha sonsa.
- Diz, Johny. –
- Podes ir à internet ver o que é que as salamandras comem? –
Eu garanto-vos solenemente que já andava a estranhar a acalmia de episódios dignos de registo por parte de um dos meus personagens principais. Levantei os olhos para lhe conseguir “ler” melhor a linguagem corporal. O catraio estava espevitado e enérgico, no meio de uns ligeiros saltinhos que me garantiram estar perante um caso grave e consumado.
- Desculpa?? –
- Sim, mãe! Vai lá ver o que é que as salamandras comem! Rápido! -
- Mas tu estarás bom da cabeça? Achas que agora vou andar a alimentar esses bichos asquerosos?
- Óh mãe… Não é preciso alimentá-los todos… É só a que está grávida, que eu até já separei dos outros… -
É claro que larguei as minhas habilidades gourmet e o segui para a rua, com o iphone já em riste, enquanto ele explicava a importância de alimentar bem aquela fémea para viver o privilégio de ter salamandras bébés.
- Ai João, que nojo! – Foi tudo o que consegui exclamar ao vê-lo a apanhar outra pelo rabo para juntar à coleção.
Obriguei-o a ir para o banho e abortar a missão, mas de nada serviu pois no dia seguinte fui dar com o marafado catraio a montar uma pequena sela com um boneco da lego… em cima de outra atarantada salamandra. Assim é o meu filho mais novo: uma inesgotável fonte de invenções que não lembram a ninguém!
Ana Amorim Dias
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