Quando era miúda, a minha mãe às vezes dizia-me: - Tu tens pêlo na venta! – mas dizia-o com um meio sorriso tão carregado de orgulho que comecei a perceber que não era uma crítica. Creio que apenas achava piada ao meu jeito decidido de lutar pelos meus direitos e defender o que considerava justo.
Já a minha avó Maria, com a sua pronúncia de Aveiro, usava outra fórmula: - Óh rapariga, tu és mesmo “atrabessada”! – No fundo dizia-me a mesma coisa.
E, como se não fosse bastante, alguém que muito amo mas que só me conheceu já adulta, diz à boca cheia e entre risadas babadas: - Minha querida, tu não és mesmo moça de capinar sentada! –
Ter pêlo na venta é dizer o que se pensa e calar o que não merece a pena ser dito; é explodir na hora certa para amansar logo depois; é seguir o caminho que mais ninguém considera o certo, mas que se vem a revelar o correto. Ser “atravessado” é conseguir viver de acordo com as leis no nosso interior, numa loucura sã que nos mantém em cima de qualquer que seja o tamanho da onda que o mar da vida nos trás. E não ser de capinar sentada consiste em ir à luta, bramindo os sabres da vontade e as espadas do inconformismo.
Concordo com eles. Com todos eles. Sim, tenho pêlo na venta, sou atravessada e não sou menina de capinar sentada, mas adoro cada minuto! Às vezes meto-me em sarilhos, é certo, mas, se assim não fosse, ia escrever sobre o quê?
Ana Amorim Dias
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