O meu filho mais novo tem uma capacidade fantástica, herdada de mim, que consiste em chorar e rir ao mesmo tempo. Há alturas em que ambas as ações são tão convictas que fico sem perceber qual é a que prevalece. E isto faz-me lembrar a bipolaridade, uma doença em que a pessoa passa muito rapidamente de um extremo de humor ao outro, diamentralmente oposto. Deverei com isto assumir que o meu pestinha e eu somos bipolares? Não me parece. Somos apenas pessoas que conseguem achar graça a alguma coisa, mesmo estando a chorar.
Por outro lado, também se diz que é bipolar quem tem duas personalidades, como se houvesse duas pessoas dentro de uma. Nesse caso não teremos todos uma boa dose de bipolaridade? Se a personalidade, numa definição muito leiga e popular, é o "conjunto das características marcantes de uma pessoa”, não poderemos assumir que todos temos em nós características marcantes antagónicas?
Senão vejamos: todos somos bons e maus; santos e pecadores; grandiosos e pequeninos. Todos conseguimos ser egoistas e generosos; compreensivos e incompreensivos; tolerantes e intolerantes. Creio que não haja um único ser à face da terra que não tenha já sentido amor e ódio, vontade de perdoar e desejo de vingança; medo e coragem. É certo que há uma tendência mais prevalente para algum dos lados mas, ainda assim, ninguém me tira a convicção que o ser humano é, por definição, um ser “pluripolar”. Apenas nos resta decidir qual dos polos nos “sabe” melhor… como faz o meu filhote, que acaba por decidir sempre que rir é muito melhor que chorar!
Ana Dias
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