Quando, há muitos anos, planeei a minha viagem a Cuba, percebi que não poderia deixar de passar pela Bodeguita del medio, em Havana, onde Hemingway por vezes escrevia. Devido a um furacão qualquer alterei a o meu destino para o Rio de Janeiro e, tantos anos volvidos, continuo sem conhcer Cuba. Mas, dessa viagem que não cheguei a viver, ficou-me a mania de não perder outros redutos da boémia criativa dos gandes criadores literários: desde o Tortoni em Buenos Aires, frequentado por Federico Garcia Lorca, ao café Greco em Roma, onde se diz que Hans Christian Andersen escreveu; passando pelo Café de Flore, em Paris que, entre os mais badalados clientes, teve Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, tenho tomado café em todos.
Não acredito que haja escritor, nos últimos 150 anos, que não tenha escrito em cafés. Ou pelo menos, “escrevinhado”. Eu escrevo em qualquer lado. Em casa, na rua, restaurantes e cafés. Escrevo onde quer que seja que a vontade me chegue. Já se deu o caso de sair do mar a correr para ir pôr no papel palavras que me estavam a sair em verso no meio das ondas. E é frequente, durante qualquer viagem, encostar o carro na berma só para não perder mais algum bailado de palavras que me chega ao pensamento mesmo a meio do caminho. Mas há um sítio especial: o da meia de leite fantástica, com música de fundo e vida a acontecer à minha volta. Uma vida que nem vejo nem oiço, a não ser como pano de fundo a tudo o que escrevo pela manhã fora.
Talvez seja sonhar alto, mas é de sonhos que a alma vive, e creio que não me morre a esperança de, daqui a muitos anos, o bar Atlântis, em Castro Marim, ser colocado nos roteiros turísticos como o local onde Ana Amorim Dias costumava passar as manhãs a escrever…
Ana Dias
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