(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

13.2.12

Todo o terreno



- A tua irmã, aqui, enjoava de certeza! –  Disse a minha mãe enquanto subíamos a sinuosa serra.
   Dei graças por nunca enjoar, qualquer que seja o percurso ou meio de transporte e, sem pensar, saiu-me:  - Sabem… Se eu fosse um carro, acho que era um todo o terreno! –
   Percebi de imediato que as gargalhadas tanto resultaram do meu inocente tom infantil como do próprio conteúdo.
   Mas, se pensarmos um pouco, muito se pode “retirar” desta   “carrosofia” !   Há pessoas que são como aqueles carros, nem feios nem bonitos, que andam só por andar; há pessoas com raça e estilo inatos, que circulam pela vida como se tivessem o simbolo da Rolls  a sair do meio da testa;  e há outras que, como alguns tristes exemplos de carros tunning, acabam por ser uma fraude, ao fingir ser o que não são.
   Alguns  são como os carros familiares: espaçosos, fiáveis  e confortáveis, capazes de “carregar” em segurança, quem quer que decidam transportar. E outros, como carros de corrida, apenas pretendem da vida as emoções mais fortes, mas normalmente estampam-se ao fim de umas quantas acelaradelas mais fortes.
   Há ainda pessoas que lembram os veículos governamentais, que se suportam com dinheiros alheios para sustentar a forma faustosa de viver, que não têm modo de comportar. Outras são tal e qual ambulâncias ou carros de bombeiros, sempre prontas a meter-se nas vidas alheias mas com as melhores intenções.   Há os parecidos a camiões de carga e os que fazem lembrar os “mata-velhos”, sempre à frente dos outros, a atrasar-lhes a vida.
   Há as pessoas que, como os mais belos carros, andam sempre no ponto, mas cuja “manutenção” costuma ser exorbitante e também  há os desportivos, de linhas ergonómicas perfeitamente invejáveis.  Mas os meus preferidos continuam a ser as pessoas todo o terreno, fiáveis nos caminhos mais duros. São estes que, embora sem o conforto de outros carros, são capazes de se transportar em segurança por caminhos que os outros não têm como percorrer.
   Mas não quero terminar sem uma referência aos carros-vassoura que, sem que ninguém os note ou valorize, vão limpando e restabelecendo a ordem à sua passagem…
Ana Dias

Sem comentários:

Enviar um comentário