(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

22.2.12

Comandar os sentimentos


  Partindo das confissões de uma amiga, dicido-me a escrever sobre relacionamentos e sobre a forma como, sem êxito nenhum, tentamos comandar os sentimentos.
  Confidenciava-me ela que, à força de tanto empenho mútuo em tentarem “construir” um relacionamento descomprometido, ela e o seu ( como lhe hei-de chamar?) par, perceberam que os sentimentos de carinho, amor, ciúme e posse se instalaram sem pedir autorização.  Quase aposto que,  como eles,  deve haver muitos. Pessoas que já sofreram e decidem avançar apenas para relacionamentos seguros em que nada é esperado nem cobrado. Não se esperam telefonemas nem mensagens constantes.  Não se cobra que o outro diga “amo-te”, na verdade é disso mesmo que se foge. Mas os seres humanos são mesmo assim, dotados de sentimentos que brotam mesmo sem serem semeados e que acabam por estender os seus viçosos ramos em abraços envolventes.
  O que fazer quando um “ não relacionamento” assumido começa a gerar os tais sentimentos que se procurou não ter? Devem ser alimentados ou arrancados sem misericórdia? Creio que cada um sabe de si, mas negar à alma o seu alimento não me parece boa solução.
  Disse à minha amiga que, se todos pudéssemos mandar nos sentimentos ninguém amaria pela segunda vez. O amor costuma estar associado a alguma dose de dor, havendo até quem preoconize que se não doer não é amor. Assim, quando um amor acaba,  em qualquer das vestes que o fim de um amor pode vestir, o normal seria fechar-lhe o coração  e ficar por ali, numa existência serena e semi vegetativa. Mas o marafado do coração, ou qualquer que seja o local onde em nós nascem os sentimentos, sobrepõe-se ao que lhe dita a razão. Resultado: os sentimentos, de início sorrateiros, vão tomando conta da pessoa, de uma forma tão irónica quanto descarada, até que nenhuma outra solução reste do que sucumbir-lhes, na habitual vertigem de quem voltou a amar e se sabe,  de novo, no fio da navalha.
  Termino com as palavras com que finalizei a conversa com a minha amiga: - Querida, o coração talvez não tenha sido feito para sofrer, mas para gelar é que não foi de certeza! –
Ana Dias

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