Quase 48 horas depois de ter dormido pela última vez, começo a abandonar valeidades de me mostrar sem sinais de cansaço. Memórias dos últimos abraços a quem ficou do lado de lá do Atlântico, misturam-se com os risos alegres de quem encontro neste lado.
O corpo já pede cama, os olhos querem fechar e o pensamento já não escorre com o costumeiro caudal mas, depois de onze dias ausente, como poderia recusar um passeio de bicicleta com as crianças? Como poderia não ser eu a oferecer-lhes o ritual do banho e dos pijamas? E recordo o último banho que lhes dei… recordo quem eu era há tão poucos dias; tudo o que não tinha visto, vivido, aprendido. Como se o banho que lhes dei há onze dias tivesse acontecido numa outra vida…
É este o balanço correto de qualquer viagem: chegar-se infinitamente mais rico do que se partiu. Trazer na bagagem ofertas para todos, mas trazer mais, muito mais, em nós mesmos. Independentemente do destino, companhia ou objetivo de cada viagem, a real importância de tal investimento é o enriquecimento pessoal: as vivências que trazemos, tatuadas na pele; os afetos conquistados pela rapidez de um sorriso franco; as memórias de momentos cinematográficos que nos acompanhão pela vida; os vislumbres dos mundos que dentro do mundo cabem; e tantas outras experiências que passam a fazer parte de nós.
Mas quando, além de tudo isto, se traz a descoberta de uma asa protetora, de contornos paternais, percebemos que a vida é, realmente, uma fonte inesgotável de aconchegantes surpresas…
Ana Dias
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